sábado, 15 de junho de 2013

Fisioterapia na Austrália




Um bom empreendedor precisa pesquisar outros cenários. No caso do Empreendedor
Fisioterapeuta, além de uma participação mais ativa junto aos Conselhos Profissionais, é
saudável a busca por informações da sua profissão em outros países. Aqui a fisioterapeuta
baiana Tatiana Paim que já mora na Austrália desde 2005 e atua na área responde perguntas
formuladas por alunos na disciplina de Empreendedorismo do Curso de Fisioterapia  4º(2013.1) semestre da Unifacs.

1. Apesar de atuar como fisioterapeuta ser uma honra, verifica-se injustiça e falta de
reconhecimento da nossa profissão quanto ao salário da classe. Diante do quadro, fica a pergunta: como se define a situação na Austrália com relação à honra e remuneração? Como é vista a Fisioterapia no país – associada à prevenção ou reabilitação? Na Austrália, a Fisioterapia é bastante reconhecida e valorizada e a remuneração é digna. O sistema de saúde da Austrália é bem diferente do sistema de saúde do Brasil. Aqui o Governo Federal subsidia 100% dos custos hospitalares (o que também inclui tratamento fisioterápico a nível ambulatorial em hospitais públicos e centros de saúde) e 75% dos custos de consultas médicas. A qualidade do sistema público é muito boa, mas existem também os planos
de saúde privados, para aqueles que preferem ir para hospitais privados (sem lista de espera pra
cirurgias eletivas, já que no sistema público pode demorar anos, a depender da gravidade do caso.
Cirurgias de emergência são imediatas). Existem diferentes níveis de cobertura pelos planos de
saúde, onde o cliente pode escolher apenas cobertura hospitalar ou pagar a mais pelos ‘extras’
(Fisio, TO, Fono, Psicólogo, Massagem, Dentista). Plano de saúde não cobre consultas médicas.
Funciona assim: o paciente tem que pagar o valor total da consulta e pedir reembolso ao seu
devido plano de saúde para esses serviços extras, e pedir reembolso ao plano de saúde do
governo pelas consultas médicas. Outra diferença grande é que aqui o fisioterapeuta é
considerado profissional de primeiro contato com o paciente, ou seja, o fisioterapeuta pode
atender um paciente sem necessitar de referência médica, seja no sistema público ou privado. Eu
trabalho em hospital público desde que cheguei por aqui, então não tenho muito conhecimento
sobre clínicas privadas, mas, sei que normalmente a porcentagem se divide para na relação
profissional 40% e dono da clinica 60%. Quadro semelhante ao Brasil, mas aqui os direitos
trabalhistas são bastante sérios e sempre respeitados. A Fisioterapia aqui é mais reabilitação do
que prevenção, provavelmente devido ao tipo do sistema de saúde.

2. Nas grandes cidades, o número de fisioterapeutas que se formam todos os anos é grande,
porém fora dos grandes centros há carência de profissionais. Como está o mercado de trabalho
para os fisioterapeutas na Austrália? É promissora essa profissão? Empreender é uma tarefa que
exige muitas qualidades, como saber se podemos nos arriscar nessa jornada que exige muita
dedicação e trabalho? Acabo de acessar um dos websites de emprego aqui na Austrália e
apareceram 1236 ofertas de emprego pra fisioterapeutas em toda a Austrália, sendo 108 para a
cidade que moro (terceira maior). Nada mal!! Entretanto, isso inclui trabalhos permanentes
(carteira assinada) e trabalhos temporários (contratos). A demanda de fisioterapeutas era bem
maior há 7 anos, quando cheguei. Hoje, muitas universidades novas surgiram, e essa demanda
tem diminuído bastante, principalmente nas grandes cidades, assim como no Brasil. Sendo assim,
o processo de reconhecimento da profissão tende a ficar mais restrito e com mais exigências, mas
continua aberto, recebendo fisioterapeutas internacionais e oferecendo residência permanente na
Austrália. O processo inclui 3 etapas: 1- Análise de equivalência de qualificação (análise da
documentação do seu curso universitário - histórico, ementa, diploma) e teste de inglês IELTS. 2-
Exame escrito (que engloba todo o conteúdo estudado num curso de fisioterapia – 120 questões
objetivas). 3- Exame prático (um de cardiorrespiratória, um de neurologia e um de ortopedia, com
pacientes reais, 1 hora de duração cada, avaliados por 3 fisioterapeutas). Segue o Website da
instituição responsável pelo processo: http://www.physiocouncil.com.au/assessment-1. É um
processo que demora em média 2 anos, e que exige mesmo muita dedicação, muita determinação
e muita perseverança, mas que é possível completar com sucesso. E vale muitíssimo a pena todo o
sacrifício, já que é uma profissão bem promissora e a qualidade de vida aqui na Austrália é
simplesmente maravilhosa.

3. Aqui no Brasil, as especialidades em Ortopedia e a área de Dermato Funcional estão
“saturadas”. Qual a área de atuação aí em que ocorre esse tipo de situação? Qual área da
fisioterapia é mais valorizada e/ou atuante?Na verdade, não tenho conhecimento de nenhuma
área saturada aqui na Austrália.

4. Qual a formação necessária para ser Fisioterapeuta? Considera-se que para exercer a
profissão de fisioterapeuta é necessário o diploma de curso superior em Fisioterapia, com
duração média de quatro anos. Cursos de especialização, que levam entre seis meses e um ano e
que podem ser na área ortopédica, neurológica, cardiológica, respiratória, ontológica, geriátrica,
neonatológica, desportiva ou de acupuntura, valorizam o profissional. É recomendável também
participar de congressos para manter-se atualizado. O conhecimento de inglês aumenta as
chances do profissional de trabalhar no exterior. Diante desta orientação curricular, quais os
requisitos necessários para trabalhar como fisioterapeuta aí na Austrália, além da fluência no
inglês? A fisioterapia na Austrália é considerada umas das melhores do mundo. Acredito que
devido a grande importância e investimento dado para as pesquisas cientificas. Como o nível
alcançado pelo fisioterapeuta que sai da universidade é muito bom, e ainda existem programas de
assistência ao recém-formado, notei que aqui os fisioterapeutas não tem a mesma ‘sede’ que nós
brasileiros temos de nos especializar. Logo, o requisito para trabalhar como fisioterapeuta aqui na
Austrália é terminar o curso universitário e se registrar no Conselho Nacional de Fisioterapia. Para
o fisioterapeuta internacional obter sucesso no processo de reconhecimento da profissão, deve se
registrar no Conselho Nacional de Fisioterapia. Mas, assim como no Brasil, os fisioterapeutas aqui
se mantêm atualizados através de cursos, congressos, seminários, e o profissional que deseja se
especializar numa determinada área, segue cursos de especializações, mestrados e doutorados.

5. Como estão se capacitando os fisioterapeutas para serem profissionais de sucesso? 
Não tenho real conhecimento de causa, mas acredito que seja devido aos excelentes cursos
universitários focalizados em pesquisas cientificas. As universidades formam profissionais bastante
sistemáticos com os processos de avaliação, tratamentos e alta dos pacientes.

6. Qual a relação do fisioterapeuta com a equipe médica? De uma forma geral, muito boa. Nos
hospitais, alguns pacientes só recebem alta hospitalar depois que liberados pelo fisioterapeuta. Os
encaminhamentos médicos não constam descrição de tratamento fisioterápico, como muitas
vezes acontece no Brasil.

7- O Código de Ética é seguido pelo profissional? Bastante. Por uma questão de respeito à
profissão e aos pacientes, mas também pelo fato de que na Austrália as leis funcionam de
verdade. Todo fisioterapeuta é fortemente orientado a ter seguro profissional em caso de
processos judiciais.

8- Qual a faixa etária dos pacientes que mais procuram a fisioterapia? Depende da área, mas, de
uma forma geral, muito mais idosos precisam de fisioterapia na Austrália. No hospital que
trabalho, 90% são idosos (cirurgias cardíacas - Bypass, transplante de coração, enfisemas, cirurgias
de prótese de joelho, quadril e ombro, AVCs) e os outros 10% são entre 16-35 anos em média (a
maioria com fibrose cística e algumas cirurgias ortopédicas, reconstrução de ligamento cruzado
anterior, por exemplo). No ambulatório de fisioterapia essa porcentagem de jovens aumenta um
pouco, mas o número de idosos ainda é superior. Existem também hospitais pediátricos. E existem
outros hospitais com maternidades, serviços de lesão medular e acidentes em geral, que engloba
uma população muito mais jovem.

9- Você conseguiu se realizar pessoalmente e financeiramente na sua profissão? O que a
fisioterapia significa na sua vida? Sou muito realizada pessoalmente e financeiramente com a
fisioterapia aqui na Austrália. Sinto-me bastante feliz em poder ajudar outros seres humanos a
terem uma melhor qualidade de vida e ser reconhecida e valorizada pelo meu trabalho

10- Você encontra recursos para trabalhar adequadamente? 
Em relação aos aparelhos usados na área da fisioterapia, no seu país existe algum avanço nesses últimos tempos? Bastante, mesmo nos hospitais públicos aqui os recursos são muito adequados e atualizados. Alguns exemplos incluem barras paralelas elétricas (para ajustar a altura de cada paciente, camas hospitalares e mesas de fisioterapia ajustáveis eletricamente pra proteger o profissional de saúde).

11- Pra você o que falta para que a área da saúde, em especial da fisioterapia, seja mais
valorizada, tanto pelo governo quanto pelos próprios profissionais? Mais pesquisa cientifica
séria, para provar real eficácia dos nossos tratamentos fisioterápicos.

12- Pra você quais são os maiores desafios da fisioterapia hoje? Valorização e reconhecimento.




Um comentário:

  1. Adorei a iniciativa de trazer informações da nossa profissão em outros países isso é muito válido para os que almejam morar fora. Me chamo, Fernanda Rodrigues e estou indo morar na Austrália, alguém poderia me passar o contato da fisioterapeuta Tatiana para que, se possível, eu possa tirar mais algumas dúvidas sobre a nossa profissão lá? Aguardo retorno. E desde já muito obrigada!

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