segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Como é a profissão de um cientista?

Recebo inúmeros email de jovens que querem saber como é ser um pesquisador, que faculdade deve cursar, quais são as opções profissionais, qual é o salário de um cientista e assim vai….. Como eu sou totalmente apaixonada pelo o que faço, reconheço que não tenho uma visão muito “imparcial”. Acho o máximo ser cientista. Trabalhei muitos anos sem ganhar absolutamente nada. Simplesmente por paixão pela ciência, pela genética.  Hoje, já ouvi alunos perguntarem  quanto vão ganhar antes mesmo de começar um estágio. Não preciso nem dizer que comigo não será. O meu orientador, o fantástico professor Oswaldo Frota-Pessoa -  que faleceu o ano passado aos 92 anos – dizia que devíamos ser felizes por poder fazer o que gostávamos. Bolsa? Salário? Era uma coisa totalmente secundária para ele. Mas e os jovens cientistas de hoje, o que pensam? Aqui vai o depoimento de uma jovem, que foi minha aluna desde a iniciação científica e hoje é uma recém-doutora: Natassia Vieira.

O que pensa a jovem doutora Natassia?


Ser pesquisador não é uma profissão, é uma escolha de vida. Um pesquisador dificilmente irá conseguir fazer um planejamento de sua carreira: a partir de tal ponto vou “atuar” profissionalmente, usar o que aprendi durante minha graduação. Na pesquisa a graduação é só o começo de um eterno aprendizado. O que pode ser encantador para quem gosta e um tanto perturbador para muitas pessoas. Porém o mais importante em fazer pesquisa é gostar!
Com a crescente popularidade da profissão e a grande exposição na imprensa, muitos jovens querem ser pesquisadores. O que responder quando alguém pergunta: que faculdade devo fazer para ser pesquisador? Se quer ser engenheiro é fácil: engenharia. Médico? Medicina. Mas e pesquisador? Teoricamente qualquer faculdade, mas o pré-requisito básico é: CURIOSIDADE. Pesquisador não tem horário de trabalho, não bate cartão, não tem final de semana; vai sempre levar trabalho para casa, porque não é possivel tirar o cérebro e deixar na mesa do escritório e voltar a trabalhar com ele só no dia seguinte.
Obviamente o que os pesquisadores aprenderam durante a graduação é de muita importância como base na sua carreira científica, e por isso se, por exemplo, seu sonho for pesquisar a extinção de uma espécie de besouro do cerrado é mais conveniente que você faça biologia e o mesmo se aplica para outras áreas.
Mas fazer somente uma faculdade não é suficiente, vamos tomar como exemplo um biólogo. Durante a faculdade é importante realizar estágios em laboratórios. Nesta fase que você vai poder testar várias áreas, adquirir experiência em algumas técnicas, vai aprender a planejar experimentos, a ter boas condutas de laboratório, ler artigos científicos, a ser crítico, a ser criticado, e o mais importante, vai aprender com seus erros. Eu, por exemplo, entrei na biologia porque queria estudar tartarugas marinhas, mas no início da graduação descobri que o que eu gostava mesmo era de genética humana!
O bom é que, uma vez preenchido o pré-requisito curiosidade, você tem um mundo de opções! Escolher o laboratório onde fazer estágio é uma etapa importante. Selecione alguns na área que tem interesse, leia sobre a pesquisa de cada um dos pesquisadores e use sua “cara de pau”. Mande emails, telefone, bata na porta do laboratório. Normalmente os grandes pesquisadores não têm tempo de atender aos inúmeros pedidos de estágio, por isso é importante se destacar… Esta etapa não é facil, mas o que conta mesmo é sua perseverança.  Se for mandar um email, não use a grafia que você usa no facebook ou no orkut. Isso pode desqualificá-lo logo de cara. Escreva corretamente, cause uma boa impressão.
Depois de se formar na faculdade o profissional poderá escolher seguir a “carreira acadêmica”, que se inicia com a pós-graduação. A pós-graduação pode ser composta de um mestrado (3 anos) mais um doutorado (3 anos), somente um mestrado ou de um doutorado-direto (5 anos). A maioria das universidades contrata pesquisadores que tenham no mínimo um título de doutor. O doutorado-direto é possivel para aqueles que tenham uma experiência acadêmica, comprovada por publicações, conquistada durante o período de graduação (lembre-se do estágio) que justifique a ausência de um mestrado. Agora sim, é importante escolher bem o laboratório que irá realizar a pós-graduação, algumas pessoas ficam no mesmo laboratório que realizaram o estágio, outras mudam. Os critérios de escolha variam, mas certamente após um bom estágio é possivel ter conhecimento suficiente para fazer esta escolha.
Durante toda sua vida acadêmica é muito importante a publicação de artigos em revistas reconhecidas de sua área. Estes artigos servem como uma comprovação de que sua pesquisa é de qualidade,avaliada e reconhecida, muitas vezes, internacionalmente. Estas publicações são a parte mais importante do currículo de um pesquisador.
As agências de fomento podem pagar sua bolsa durante todo este período. Existem muitas agências que oferecem bolsas de vários níveis, incluindo Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e pós-Doutorado. A maior parte das agências realiza uma seleção, por mérito, para distribuição das bolsas. Nesta seleção são avaliados o currículo do candidato e orientador assim como o projeto. O valor das bolsas não é alto, mas se você gostar do que faz isso é o de menos.  Lembre-se que nos Estados Unidos um aluno paga para fazer um Mestrado ou um Doutorado e aqui você ganha para estudar. Um enorme  privilégio.
É muito importante deixar claro que a pesquisa acadêmica não é a única opção. Vem crescendo muito a demanda por profissionais que tenham experiência em pesquisa. Por isso é possivel fazer pesquisa em empresas privadas! Não existe uma receita para ser pesquisador. Conheço inúmeras histórias de sucesso, algumas muito diferentes das outras. É importante saber que esta profissão é muito recompensadora e que é acessível para qualquer pessoa.
Por Mayana Zatz
from: http://veja.abril.com.br/blog/genetica/sem-categoria/como-e-a-profissao-de-um-cientista/ 

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